domingo, 30 de dezembro de 2012

Presente de ano novo: Urs Leimgruber, Roger Turner e Abaetetuba ao vivo

Bom, eu tinha dito que o último post seria o derradeiro de 2012, mas aí pintaram no youtube os vídeos do show mais sensacional de improvisação livre do ano (sobre o qual falei aqui):






 Agora sim, até 2013!


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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Retrô 2012: #fail



2012 foi incrível, mas sempre rolam aquelas pedras no meio do caminho. Com vocês, as furadas do ano:

A não-entrevista com John Zorn 
Tentei de tudo o que é jeito, mas não deu: seu Zorn não quis papo com jornalêra no Brasil. O que me deixou mais chateada nessa história foi que ele deu uma entrevista como-você-se-sente-tocando-em-Buenos-Aires-style pro Clarín.

Público do show do Thurston Moore 
Coisas que eu não entendo:
- ir em um show para conversar e não ver o show
- ir em um show do Thurston Moore para conversar e não ver o show
- ir em um show do Thurston Moore pelo qual você pagou 140 pilas para conversar e não ver o show

Show da Instant Composers Pool 
O grupo chama Instant Composers Pool, reúne alguns dos músicos de improvisação livre mais escolados do mundo (incluindo o fenomenal baterista Han Bennink) e fizeram um show caretaço, com direito a partituras e standards de jazz.

Shows fechados
Você vê a notícia de que um artista bacana, como a Tune Yards, vai tocar no Brasil, e aí vê que o evento é exclusivo para o pessoal da firma hipster e seus amigos. Puta falta de sacanagem temperada com a jequice típica dos vi-ai-pis.

Disco novo do Yakuza
Os caras são de Chicago, têm um trânsito legal com o povo do free jazz (Ken Vandermark chegou a tocar com a banda) e lançam um disco com cara de Dream Theater. Não dá.

Barrigada
Só fui descobrir que Deathspell Omega, Dodecahedron, Menace Ruine e Krallice lançaram discos em 2012 quando saíram as listas de melhores do metal. Vou tentar ficar mais atenta aos lançamentos headbangers de 2013...

Morte de Hydra Head 
Falando em metal, a gravadora Hydra Head anunciou que vai pro saco. Mas o fez com um último lançamento bala, o split JK Flesh/ Prurient.

Mimimi 
Tanta coisa boa rolando em tantos gêneros musicais diversos e neguinho vem com papo saudosista, classista, roquista. Não gosta, deita na BR ou vai morar numa caverna com a discografia completa do Uriah Heep.

Não poder estar em mais de um lugar ao mesmo tempo 
Só assim pra conseguir acompanhar a agenda foda de shows de São Paulo.

Agora só em 2013. Muito barulho para todos!


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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Retrô 2012: músicas



Eu ia fazer aqui uma compilação de músicas favoritas de 2012, mas aí fui chamada pra criar uma lista pra +Soma e bom... quem quiser conferir um cadinho de coisa errada feita no ano, só clicar aqui.



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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Retrô 2012: shows

Fui a muitos shows em 2012 e posso dizer que vi vários ótimos, alguns muito bons, um ou outro um pouco decepcionante e nenhum que me deu vontade de rasgar o ingresso. Destaco aqui os quatro que achei mais impactantes:

Masada
Quando soube que o John Zorn vinha pro Brasil com o Masada, fiquei um tanto frustrada - afinal, o projeto de música judaica moderna é o que há de menos torto na longa lista de bandas e projetos tortos de Zorn. Mas, cusparada e rabugice à parte, o show no Cine Joia foi perfeito, uma mistura na medida de fritação experimental e melodias pra cantar, dançar, assoviar.



Glenn Branca
Apesar dos discos da Glenn Branca Ensemble serem assombrosos, fica claro que as gravações não são o suporte ideal para a música de Branca, já que ele trabalha muito com fenômenos acústicos, sons que não estão na partitura, mas que são gerados a partir da interação entre os instrumentos - e isso é muito difícil de registrar em disco. No teatro do SESC Belenzinho,  ouvi gritos, muitos gritos, saindo dos amplificadores. Fora o impacto físico do som no talo e a performance à lá Elvis desconjuntado do mr. Branca.


Urs Leimgruber, Roger Turner e Coletivo Abaetetuba
Um exercício radical de improvisação e exploração das possibilidades apresentadas por instrumentos e não-instrumentos. Dediquei um post longo do blog a esse show.


Orquestra Alfabeto
A pessoa que vi mais vezes num palco em 2012 foi o Carlos Issa: três shows do Objeto Amarelo, um do Afasia e um da Orquestra Alfabeto. Este último, na Galeria Logo, foi do tipo de experiência sonora que me dá mais prazer: aquela em que é preciso se deixar engolfar por uma massa de ruídos, e lá de dentro perceber suas nuances, suas transformações/permanências, sua beleza distorcida.



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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Retrô 2012: entrevistas

Que ano bom! Veteranos lançando discos incríveis, gente nova aparecendo, shows foda rolando em São Paulo... por isso inicio hoje uma pequena série de posts sobre coisas legais que rolaram em 2012. Neste primeiro, deixo os links para as poucas e boas entrevistas que fiz para a Soma ao longo do ano. Tive conversas gostosas com Secret Chiefs 3, Stephen O'Malley e Kevin Drumm, e realizei meu sonho molhado jornalístico que era entrevistar o Glenn Branca - uma experiência assustadora e inesquecível.

Só faltou a Matana Roberts (não deu pra entrevistá-la porque eu estava enrolada com uma quase mudança para Brasília) e o John Zorn, que se recusou a falar com jornalistas - mas parece que ano que vem ele está de volta e aí... quem sabe?

Então vamo lá:

Secret Chiefs 3 - clique aqui

















Stephen O'Malley - clique aqui


Glenn Branca - clique aqui

















Kevin Drumm - clique aqui













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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Inferno infantil




Na correria de lista de melhores discos de 2012, acabei finalmente ouvindo o álbum Sexually Reactive Child, do VICTIM!, projeto-solo do Cadu Tenório (Sobre a Máquina). Várias vezes eu conheço o trabalho de um artista – ou ouço um lançamento de alguém que já conheço – e fico com vontade de entrevistar a pessoa. Mas nesse caso, rolou algo até então inédito: senti que seria impossível fazer um texto sobre o disco sem antes pegar umas informações com o Cadu.

Pelo nome do projeto, do disco e das faixas (Trauma #1, Trauma #2 etc) e também pela capa belamente assombrosa (obra do artista Thiago Modesto), já fica bem claro que o disco trata de um tema especialmente espinhoso – e a questão que vem logo à mente é: mas essa desgraceira toda é autobiográfica?
E foi justamente essa a primeira pergunta que eu fiz para o Cadu em um bate-papo via Facebook na noite de ontem (jornalistões de plantão: deixo aqui claro que não se tratou de uma entrevista, apenas uma coleta de informações, ok?). Eu esperava duas respostas:

 - Não, é tudo mentirinha (confesso que estava desejando ler isso)
 - É autobiográfico, sim. Utilizei a música como ferramenta para lidar com esses traumas

Mas o que veio como resposta quase me fez cair da cadeira – e me fez multiplicar por dez a admiração que eu já tinha pelo trabalho do disco. Reproduzo aqui o que ele explicou: “na verdade o ponto de partida foi o som. Mas pra chegar no que eu queria em termos de som, eu precisei lidar com um tema que fosse forte pra mim de verdade”.

Ou seja, em vez de usar a arte para resolver uma questão pessoal, ele utilizou memórias nada felizes para atingir um objetivo artístico. “eu sempre quis lidar com esses fantasmas da forma mais saturada possível em termos de som, alcançar algo violento, de verdade, pesado mesmo”, completou.  

Outra coisa que já tinha me chamado a atenção durante a audição de Sexually Reactive Child e que se acentuou depois da conversa com ele é a grande variedade de timbres do disco – quem acompanha o Destruindo Pianos sabe que eu piro nisso. Logo dá pra sacar que é um trabalho elaborado e não algo feito em uma sentada na frente do laptop. Cadu trabalha com a ideia de paisagem sonora da música concreta e muitos dos sons presentes no álbum foram captados na casa onde vive: portas, gavetas, basculante abrindo e fechando, secador de cabelo, maçanetas, torneiras frouxas, porta de correr do box – alguns desses objetos estavam presentes no cenário em que os traumas ocorreram. Cadu também criou loops rítmicos a partir de sons captados de superfícies e do chão: “é uma das coisas com a qual mais experimento, microfones, microfonias controladas, captação de contato, loops ritmicos gerados a partir disso”.
Para completar, ele usou violino, flauta, sintetizadores e pedais. O resultado é um disco extremamente perturbador e claustrofóbico, carregado daquela bad vibe em estado bruto à lá Throbbing Gristle (uma das maiores influências musicais de Cadu). Em Trauma #3, fiquei com os pelos do braço eriçado e quase comecei a chorar enquanto a voz desesperada berra “You can’t touch me like that!”. Ao longo das faixas, descortinam-se cenas de tortura, pornografia hardcore e angústia insuportável. Um trabalho artístico incrível, mas que deixa o ouvinte com a ideia de que talvez não seja tão mau assim o mundo acabar no próximo 21 de dezembro.
Ouça por sua conta e risco aqui.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ain't nothing light about this, Melvins!



Quem acompanha o Melvins sabe que em junho o grupo lançou o disco Freak Puke sob a alcunha Melvins Lite - que consiste em Buzzo na guitarra e vocal, Dale Crover na bateria e Trevor Dunn no baixo acústico - e que em setembro eles saíram em uma turnê insana pelos 50 estados dos EUA + Washington DC em 51 dias.

O show em Baltimore foi registrado por uma boa alma munida de uma boa câmera e reforça o que todos que ouviram Freak Puke já tinham constatado: "Ain't nothing light about this, Melvins!"

Pirai-vos:














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domingo, 11 de novembro de 2012

Ches Smith no Brasil (sim, de novo!)

Eis que o baterista Ches Smith (sobre o qual já falei um tanto neste post) está prestes a fazer seu terceiro pit stop no SESC Belenzinho. Na primeira vez, ele tocou ao lado de David Torn e Tim Berne, na segunda, com o grupo Secret Chiefs 3, e agora apresenta seu trabalho solo Congs for Brums - que também fará shows em Araraquara e no Rio.

Se só de juntar as palavras" bateria" e "solo" já pintou um frio na espinha, pode ficar calmo. No Congs for Brums, Ches também usa vibrafone e uns apetrechos eletrônicos, então o resultado final tem a ver  com música e não com "olha só minha habilidade, parece que eu tenho oito braços!":



Serviço:
23/11, 20h: SESC Araraquara, entrada grátis
24/11, 21h: SESC Belenzinho, ingressos de R$ 6 a R$ 24
25/11, 20h: Audio Rebel (Rio de Janeiro), ingresso R$ 30



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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Abram caminho!


 Nos último tempos, venho prestando pouquíssima atenção à canção, especialmente à canção brasileira. Os motivos para o desinteresse incluem falta de tempo, preguiça e a impressão de que os alardeados novos cancionistas tendem a chover no molhado. Por isso, se tiver que escolher entre uma faixa instrumental freak de 50 minutos e um disco de canções da mesma duração, vou direto à primeira opção. A não ser que a segunda alternativa seja o Metá Metá.

Grupo paulistano formado pelo violonista Kiko Dinucci, pelo saxofonista Thiago França e pela cantora Juçara Marçal, lançou seu debut fonográfico no ano passdo (quem quiser ouvir, recomendo baixar o app Bagagem, que traz o disco com encarte e vídeos).

A matéria-prima principal do trio é a tradição afro-brasileira e também dá para notar uma influência bem forte da Vanguarda Paulista. No disco de estreia, as canções são acústicas e, em sua maioria, primam pela delicadeza e pelos arranjos econômicos - com exceção de Obá Iná, que é onde a coisa fica BEM QUENTE. Mas, em geral, é um trabalho bonito e que eu admiro muito, mas que não chega a dar aquele nó nas minhas vísceras e sobre o qual você provavelmente não leria aqui no blog.

Até que, há alguns meses, pintou o vídeo ao vivo de uma música nova do grupo, que sairia no segundo álbum, batizado de MetaL MetaL - e foi aí que a coisa começou a enroscar daquele jeito que eu adoro:


Metá Metá: LAROIÊ EXU - ao vivo no ECLC from Olho on Vimeo.

Eis que ontem o Metá Metá soltou no SoundCloud uma faixa desse novo trampo e... bom, OUÇAM:

Oya - MetaL MetaL by Metá Metá
 
O que mais me chamou a atenção foi a habillidade em intercalar o fino trato do álbum anterior (que voz bonita e sem floreios tem a Juçara Marçal, meu deus!) e um peso mezzo rock barulhento mezzo free jazz. E não falo somente da ideia de misturar as duas coisas e sim da passagem de um extremo para outro, feita como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Já ouvi essa música umas cinco vezes hoje e em todas elas quase tive um orgasmo na parte em que a guitarra (a eletricidade e a distorção são novidades no som dos caras, aliás) e o sax fazem o inferno enquanto Juçara entoa o refrão repetidas vezes, ali pelos 3 minutos e meio. Se algumas músicas perdem o impacto após algumas audições, esta parece ficar cada vez melhor - e resistir ao desgaste da repetição não é tarefa fácil, covenhamos.

Agora resta esperar pelo disco completo.

ÃPDÊITI dia 7 de novembro: O álbum já saiu e está disponível pra download em 320k no site do Kiko Dinucci.



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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Algumas palavrinhas sobre Karkowski




Já faz alguns anos que me interesso por criar uma música que pode ser apreciada por seres sem nenhum conhecimento cultural, música que pode ser chamada de primordial, arquetípica ou ritual, no sentido de ritual como evolução do indivíduo através do tempo e do espaço sagrados. Música direcionada não ao intelecto, mas a todos os sentidos, música cuja única função seja a integração total dessas energias e forças sagradas que existem latentes dentro de todos nós (Zbigniew Karkowski)

Como o intuito deste blog não é desfiar conhecimento e sim compartilhar as descobertas musicais que vou fazendo, me sinto à vontade pra fazer um post sobre o artista de noise polonês Zbigniew Karkowski. Entrei em contato com a obra dele há mais ou menos um mês e ouvi pouquíssima coisa (sabe essa história de que na internet tudo está à distância de um clique? Então, é furada), mas gostei muito desse tiquinho que ouvi e também fiquei bem interessada pela abordagem que ele tem da música.

A história resumida é a seguinte: o cara estudou música na universidade e lá percebeu que os compositores da tal música erudita contemporânea criavam suas obras fazendo referências a obras de outros compositores (seja para negar radicalmente o que fora feito antes, seja para homenagear), criando uma situação em que o ouvinte só consegue apreciar e entender determinada peça se conhecer todas as referências contidas ali – se você imaginar que o compositor x faz referência a y, que sua vez se refere a z, que por sua vez se refere a j, dá pra ter uma ideia da espiral de incompreensão que se forma em torno de uma reles peça. 

Por isso, Karkowski partiu para uma abordagem totalmente anti-intelectual, uma música que não precisa passar pelo racional para ser apreciada, que recupera o aspecto ritual (Karkowski chega a comparar sua música ao vodu) e transcendental. Tudo isso ele explica no manifesto The Method isScience, The Aim is Religion, e também em entrevistas e palestras, como esta aqui apresentada no Brasil:



 Falando nisso, o polonês é fã do país e vive aparecendo aqui para fazer shows dos quais todo mundo sai surdo (o cara é famoso por queimar PAs) e para curtir noitadas regadas a caipirinha. Aqui tem um vídeo de uma apresentação dele em Florianópolis:
ZBIGNIEW KARKOWSKI at UDESC/FLORIANOPOLIS/BRAZIL from Peter Gossweiler on Vimeo.

Além de ter ideias foda e fazer música igualmente fodida, o cara ainda é um dos criadores da SoundNET, uma engenhoca de 121 metros quadrados ativada por sensores que é, segundo Karkowski, o maior instrumento musical do mundo:


Quer mais? Então clique aqui é baixe o disco Uexkull, um dos primeiros lançados pelo artista – e que estava na playlist que eu preparei pro Kevin Drumm.



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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Finalmente, LP do Elma!


Seis longos anos depois do lançamento do EP, eis que o Elma (também conhecida como "banda mais linda do metal nacional") liberou seu primeiro álbum, que pode ser ouvido em streaming aqui ou ser baixado gratuitamente aqui.
Link
Minha impressão ao ouvir o bichinho, que certamente é um dos melhores lançamentos brazucas de 2012, é a de que o Elma teve a manha de aproveitar tudo o que o metal tem de mais legal (os riffs poderosos, a energia, o peso) e jogar no lixo o que o gênero tem de insuportável (os riffs que soam todos iguais, as letras imbecis, os solos desnecessários).

Além da contribuição ao universo metálico, também é importante destacar o Elma como um dos bons nomes da música instrumental brasileira atual. Apostando no som de grupo e abolindo o exibicionismo virtuose, o quarteto paulistano certamente colabora para tirar o estigma de punhetação geral e irrestrita que infelizmente ainda acompanha o rótulo "música instrumental".

Para melhorar ainda mais, o show de lançamento vai ser no dia 15 de setembro, às 20h, no CCSP, abrindo para o espetacular artista de noise Kevin Drumm - e parece que vai rolar uma apresentação conjunta da banda e do noisêro. Vamos acompanhar...



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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Improvisação livre aqui agora

Que 2012 está um ano incrível para a improvisação livre no Brasil não há dúvida: já aportaram por aqui Peter Brötzmann, Roger Turner, David Torn, entre vários outros, e está marcada para setembro a vinda do Instant Composers Pool, de Han Bennink e Misha Mengelberg.

Mas esse bom momento não se deve somente às visitas ilustres. Destaco aqui três grupos brasileiros que vem fazendo bonito na área da free music:

Coletivo Abaetetuba

Tive a oportunidade de assisti-los duas vezes neste ano: com Roger Turner e Urs Leimgruber (falei sobre esse show aqui) e no Festival de Cinema Silencioso, no qual fizeram a trilha sonora para o filme alemão Sombras. Com uma formação que inclui uma rabeca, um shamisen e diversos objetos que usualmente não são utilizados para fazer música (pás de batedeira, sacos plásticos), o coletivo tem uma linguagem bastante radical, distante, inclusive, do free jazz.



Mnemosine 5

O Mnemosine 5, grupo que lançou o primeiro disco em 2012, embora também seja experimental (a improvisação livre SEMPRE é experimental), trabalha com músicas com contornos mais definidos e tem até uma pegada roqueira.



Chinese Cookie Poets

Falando em pegada roqueira, outra ótima descoberta de 2012 foi o grupo carioca Chinese Cookie Poets. A banda já havia lançado dois EPs e neste ano saiu o primeiro álbum, Worm Love - dá para ouvi-lo todinho no Bandcamp dos caras. E eles se apresentam no CCSP dia 13 de setembro, às 21h.





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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Música versus realidade

Aviso: o texto que você está prestes a ler é um devaneio - se não curte, tchau.

Como toda pessoa apaixonada por música (e como todo mundo que foi educado por meio do cinema e de séries de TV, sejamos francos), tenho carinho pela ideia de trilha sonora da vida: ligar paixões, fossas, alegrias, tristezas a determinadas músicas. Para isso, nada melhor do que canções - e pode entrar aí o pop mais sem vergonha, baladas corta-pulso, "Wicked Game"...

Por outro lado, cada vez mais me sinto atraída por músicas impossíveis de serem relacionadas a qualquer coisa que não elas mesmas - e diria que 90% do conteúdo deste blog trata justamente desse tipo de linguagem. São músicas que parecem inclusive existir em um tempo diferente do tempo do relógio, que não servem para preencher os momentos da vida com sons e sim para arrancar o ouvinte dessa coisa que chamamos realidade. Das músicas estilo "trilha sonora da vida" posso extrair um grande prazer momentâneo, mas transcendência mesmo só consegui com as do segundo tipo.

Mas deixemos o umbigo um pouco de lado. A ideia de música como algo que não faz parte do mundo cotidiano não brotou agora da minha cabeça. O futurista Luigi Russolo, no manifesto L'arte dei rumori (A arte dos ruídos), de 1913, defendia que:

Entre os povos primitivos, o som era atribuído aos deuses. Era considerado sagrado e reservado aos sacerdotes, que o utilizavam para enriquecer seus sitos com mistério. Assim nasceu a ideia do som como algo em si mesmo, diferente e independente da vida. E disso resultou a música, um mundo fantástico sobreposto sobre o real, um mundo inviolável e sagrado.

O mesmo pensamento aparece de vez em quando em entrevistas com artistas que admiro. Por exemplo:

Dimitri, uma das vozes guturais por trás do insano Phurpa (banda russa de música tibetana), afirmou, em entrevista ao Intervalo Banger, que a música do grupo não tem qualquer emoção ou "elo com a realidade do cotidiano".



Em entrevista ao site Pitchfork que acabou de ir ao ar, Michael Gira não chegou a ser tão explícito, mas disse que curte guitarras com volume alto porque gosta de "como você pode perder todo seu ser no som".



E mesmo na conversa que tive com Flo Menezes ele ressaltou que "Com a maioria das peças em que você se confronta com uma complexidade que te absorve, a tendência é abstrair o tempo. E quando você abstrai o tempo você vai para uma dimensão onírica".




terça-feira, 14 de agosto de 2012

Trey Spruance assopra velinhas

Link
Sabe aquela história de "fulano é um grande sujeito, tanto no profissional quanto no pessoal"? No caso de Trey Spruance essa frase besta faz todo o sentido: além de ter tocado guitarra no Mr. Bungle e no Faith no More e de atualmente comandar o Secret Chiefs 3, o cara é gente fina como vi poucas vezes na vida.

Tive oportunidade de entrevistá-lo para a Soma em abril, quando o SC3 veio tocar em São Paulo, e foi um dos papos mais legais da minha jovem carreira de jornalêra. Generosíssimo, ele topou passar mais de uma hora conversando (detalhe: tanto Spruance como os outros caras da banda, também super bacanas, estavam morrendo de fome) e depois ainda nos falamos no meio virtual para ele esclarecer alguns pontos. E quando a matéria foi ao ar, ele ainda elogiou e tal. Enfim, o entrevistado dos sonhos!

Para comemorar a data em grande estilo, posto aqui dois shows completos:

Mr. Bungle tocando no Bizarre Festival em 2000(aliás, o único registro audiovisual decente da banda):




Secret Chiefs 3 participando do show do John Zorn no Jazz em Marciac deste ano:

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

MuCoMuFo 5 - Meredith Monk

Apesar de meio deixado de lado, meu movimento Mulheres Contra a Música Fofinha, aka MuCoMuFo, continua vivo e chutando. A fodona da vez é a compositora e cantora Meredith Monk, que, ao contrário das outras mulheres que apareceram nessa seção, não faz o estilo "dois pés no peito". Pelo contrário, a radicalidade dela está no outro extremo, o extremo da delicadeza:



Muito influenciada por zen-budismo, Monk lançou discos com nomes como Impermanence e Mercy e em sua música é impossível encontrar qualquer coisa que lembre raiva, ódio, desespero - assim como não há grandes exaltações ou felicidade efusiva, apenas uma serena alegria de viver.

Monk, que também já fez incursões pela videoarte, se preocupa bastante com o aspecto visual das suas apresentações (os cantores costumam realizar pequenas coreografias, inclusive). Nesse vídeo, a própria arquitetura do local foi utilizada para criar um contexto visual para a música. Belíssimo:





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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Especial Glenn Branca: Hallucination City

A 13ª sinfonia de Branca é uma obra insana para 100 guitarras - e uma solitária bateria. Não consegui achar vídeos decentes de Hallucination City e ela ainda não foi registrada em disco, então deixo vocês com essa reportagem em que o compositor fala um pouco sobre a peça:



ps: Branca deve ter gostado dessa história de juntar uma renca de instrumentistas, tanto que uma das peças que está tentando gravar em disco é False World, Good Night!, para 100 violinos e percussão orquestral.

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Especial Glenn Branca: sinfonias para orquestra


Um dos erros crássicos em relação a Branca é se referir a ele como "o cara que compõe umas peças loucas pra guitarra" - aliás, se algum dia você tiver a oportunidade de estar cara a cara com ele, corre um sério risco de levar um pescotapa caso solte uma dessas.

Sim, ele compõe umas peças loucas pra guitarra. E levando em conta algumas pessoas que passaram por sua ensemble, ele pode ser considerado o mentor de muita coisa revolucionária no rock guitarrístico. Mas seu universo estético não se limita às seis cordas, e ele já escreveu peças para cravos preparados e para orquestras sinfônicas. Em uma entrevista dada alguns anos atrás, Branca afirmou:

"Acredito que a orquestra sinfônica é o instrumento mais belo já concebido por qualquer cultura [...] Quando ouço uma ótima banda de rock, isso me faz sentir vivo, mas quando ouço uma ótima orquestra, isso me faz sentir humano".

Das suas obras para orquestra, duas foram registradas em disco: a Sinfonia n. 7 (que foi gravada ao vivo e tem um dos áudios mais escrotos que já vi na vida) e a Sinfonia n. 9 (L'eve Future), que também conta com um coral e ganhou um melhor tratamento fonográfico.

Enquanto as obras para guitarra são no estilo porrada na orelha (efeito atingido pelo uso do clímax sustentado), as sinfonias para orquestra tem longas passagens calmas, de exploração de timbres. O primeiro movimento de L'eve Future são 47 minutos de tranquilidade, de uma música que se desenvolve de maneira orgânica: uma ideia dando origem a outra ideia dando origem a outra ideia, em um esquema que poderia durar eternamente, não fosse a entrada brusca do segundo movimento, de caráter mais orgástico.

(infelizmente, não tem nenhum videozinho da peça...)

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