terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Craig Leonard parte 2

Pedi ao Craig Leonard a lista dos artistas e álbuns elencados para a performance Sun Ra to Sunn O))). Ele me mandou uma relação meio incompleta (não lembrava o nome de alguns discos e disse que talvez até tenha esquecido de elencar alguns artistas) e organizada de trás pra frente (de Sunn O))) para Sun Ra), mas dá pra ter uma boa ideia do que consiste a performance:

Sunn O))) - MONOLITHS AND DIMENSIONS
Talibam - ECSTATIC JAZZ DUOS
New Humans - UNDERCOVER
Merzbow - PROTEAN WORLD
Future Blondes HEARTLESS
Melt Banana BAMBI'S DILEMMA
Pre EPIC FITS
Mouthus SAW A HALO
Clockcleaner BABYLON RULES
Kites HALLUCINATION GUILLOTINE/FINAL WORSHIP
krankenhausen ?
Coughs SECRET PASSAGE
Dreamcatcher NIMBUS
Silver Daggers NEW HIGH & ORD
Sightings ARRIVED IN GOLDXBXRX SIXTH IN SIXES
Neon Hunk SMARMY MOB
The Locust PLAGUE SOUNDSCAPES
Smegma & Wolf Eyes THE BEAST
Noxagt TURNING IT DOWN SINCE 2001!
Mindflayer TAKE HOUR SKIN OFF
Panasonic/Alan Vega MEDAL
Null ULTIMATE MATERIAL II
The Chrome Cranks LOVE IN EXILE
Man Is The Bastard SOURCES OF POWER
Splendor Mystic Solis HEAVY ACID BLOWOUT TENSIONS LIVE!
Harry Crews NAKED IN GARDEN HILLS
Jesus Lizard HEAD
Royal Trux ROYAL TRUX
The Young Gods RED WATER
Negativeland HELTER STUPID
Sonic Youth DAYDREAM NATION
Soixante Etages HEATPROOF CAULDRONS FOR WANGLERS
Jane's Addiction NOTHING'S SHOCKING
Steaming Coils THE TARKINGTON TABLE
Legendary Pink Dots ANY DAY NOW
Honeymoon In Red HONEYMOON IN RED
Big Black SONGS ABOUT FUCKING
Slope GRADUAL DISAPPEARANCE
Gen Ken GREATEST HITS
Architects Office CASWALLON THE HEADHUNTER
ANP ULTRASONIC
Controlled Bleeding CURD
Rhys Chatham FACTOR X
Swans HOLY MONEY
The Jesus & Mary Chain PSYCHOCANDY
Un Departement LE ALBUM
Henry Kaiser SOLO GUITAR
Savage Republic TRAGIC FIGURES
Test Dept BEATING THE RETREAT
Black Flag DAMAGED
Scraping Foetus Off The Wheel HOLE
Rhythm & Noise CONTENTS UNDER NOTICE
Bourbonese Qualk HOPE
Problemist 9 TIMES SANITY
Sonic Youth CONFUSION IS SEX
Einsturzende Neubauten DRAWINGS OF PATIENT O.T.
Clock DVA ADVANTAGE
Mark Stewart & The Maffia LEARNING TO COPE WITH COWARDICE
Severed Heads SINCE THE ACCIDENT
P.I.L. THE FLOWERS OF ROMANCE
Boyd Rice/Frank Tovey EASY LISTENING FOR THE HARD OF HEARING
Biting Tongues DON'T HEAL
DNA A TASTE OF DNA
Whitehouse BIRTHDEATH EXPERIENCE
Baroque Bordello ABNORMAL SONGS
Throbbing Gristle HEATHEN EARTH
Cabaret Voltaire THE VOICE OF AMERICA
The Birthday Party S/T
Alternative TV VIBING UP THE SENILE MAN, PART ONE
The Germs GERMICIDE
Throbbing Gristle 2ND ANNUAL REPORT
Boyd Rice S/T
Suicide S/T
Steve Reich DRUMMING
The Stooges FUNHOUSE
Morton Subotnick TOUCH
MC5 KICK OUT THE JAMS
The Mothers of Invention ABSOLUTELY FREE
Velvet Underground THE VELVET UNDERGROUND & NICO
Red Krayola THE PARABLE OF ARABLE LAND
John Cage VARIATIONS IV
The Nihilist Spasm Band RECORD
Sun Ra THE MAGIC CITY

E Craig Leonard também tem uma banda de srf punk chamada Catbag, na qual toca um baixo modificado (cordas E e A de baixo e E e A de guitarra). O myspace tá aqui e o perfil no Reverbnation aqui.

Feliz Natal a todos.

Presente de Natal: entrevista com Craig Leonard

O artista multimídia canadense Craig Leonard se define como um “anarquivista” – alguém que trabalha com arquivismo de maneira desregrada e sem seguir protocolos. A (anti-)técnica parece perfeita para a área de interesse de Leonard: explorar e catalogar materiais ligados à vanguarda e à contra-cultura.

Em 2007, ele estava fuçando no acervo do Centre for Experimental Art and Communication, que funcionou em Toronto de 1973 a 1978, quando achou uma gravação da banda de punk rock californiana The Screamers. Durante a curta carreira do grupo (1977-1981), nenhum disco foi gravado, o que conferiu ao material encontrado por Leonard status de tesouro histórico do underground. O artista então se incumbiu da tarefa de prensar artesanalmente cópias em vinil do registro e entregá-las aos ex-membros da banda que ainda estavam vivos – e fazer do processo todo um projeto chamado Gift for the Screamers. Em janeiro de 2009, Leonard criou um novo projeto de investigação musical: descobrir quando e em qual estúdio canadense a banda no wave DNA gravou a música "Grapefruit". Na mesma época, o artista expôs, no museu Mercer Union de Toronto, a obra Bad Seeds, que consiste em imenso mapa musical que mostra relações entre integrantes de diversas bandas não-comerciais.

Sua empreitada mais recente é Sun Ra to Sunn O))) – A Blasted History of Noise, uma performance de uma hora de duração na qual Leonard apresenta trechos de 100 discos importantes da “noise music”, começando com The Magic City, de Sun Ra (1965) e terminado com Monoliths and Dimensions, de Sunn O))) (2009). Fiquei sabendo dessa performance somente agora em dezembro, por meio de um post do blog Trabalho Sujo. Fui pesquisar na internet e consegui o contato de Craig Leonard, que topou me dar uma entrevista por email (sei que entrevistas por email são uma aberração da era tecnológica, mas o cara mora no Canadá, então vamos dar um desconto, né?). A seguir, nossa “conversa digital”, acompanhada de vídeo com um trecho da apresentação:

From Sun Ra to Sun O))) - Craig Leonard from New Media Workspace on Vimeo.



Noise music não é uma coisa agradável para a maioria das pessoas. Como você entrou em contato e começou a gostar desse tipo de música?
Basicamente, é outra faceta do meu interesse em expressões artísticas de vanguarda. Eu não diria que gosto de barulho por si só, eu gosto em um contexto cultural amplo, como ato de resistência e rebelião.

Como Sun Ra to Sunn O))) foi concebido? Quando você teve a ideia de fazer essa performance?
A ideia surgiu de uma matéria chamada Audio Explorations que eu ensino na Universidade NSCAD em Halifax. O curso era sobre barulho, improvisação e instrumentos feitos em casa. Como introdução para a história do barulho na música, eu levei meu toca-discos portátil e alguns discos de Morton Subotnick, Minus Delta T, Throbbing Gristle e ATV. Então surgiu a ideia de que seria ótimo fazer uma cronologia do barulho em dois ou mais toca-discos. Eu tentei fazer isso em um festival de música experimental no verão de 2009 chamado Obey Convention, onde eu fui algo do tipo o DJ do barulho entre as bandas. A apresentação foi boa o bastante para que eu pensasse em tentar novamente como uma performance solo.

Você disse que o que define barulho é “dissonância, volume, distorção, imprevisibilidade e caos”. E os sons desafinados e experimentações com afinações diferentes (como escalas orientais)?
O que acho interessante no “barulho” é que, na maioria das vezes, se trata de um conceito relativo – pessoalmente e culturalmente. É definido como o sinal indesejável em um sistema, mas para alguns este é o objetivo. Então continua sendo barulho? Esse é o ponto em que “barulho” se torna um gênero, e eu não estou automaticamente interessado em ouvir esse tipo de trabalho. A performance é uma apresentação de marcos culturais E de relações pessoais com um largo espectro de barulho na música.

Me conte como você formou essa coleção de vinis de noise music. Imagino que alguns dos discos que você toca na performance devem ter sido realmente difíceis de achar…
Li muito sobre noise, utilizei discografias sugeridas por outras pessoas (como a legendária lista Nurse With Wound), e fiz coleções de catálogos completos de certos selos (Industrial, Play It Again Sam). Estou longe de ter todos os discos que eu adoraria ter, mas sempre estou fazendo procuras online ou em lojas de discos sempre que vou a uma nova cidade (Como são as lojas de discos em São Paulo!?). Basicamente, minha coleção nasceu do meu gosto por Throbbing Gristle. A partir daí, voltoi no tempo até o jazz experimental e os primórdios da eletrônica, e tem se movido para a frente por muitos estilos diferentes. Mas sou parcial em relação ao início dos anos 80. Estou preenchendo lacunas e procurando por coisas novas o tempo todo.

Você é um entusiasta do vinil?
Definitivamente!

Como você escolheu quais álbuns, músicas e pedaços de músicas usaria em sua performance? Quanto tempo você levou para fazer essa seleção?
Eu gostei da poesia de ter Sun Ra e Sunn o))) emoldurando os discos apresentados. Eu usei The Magic City, disco que Sun Ra lançou em 1965, para começar, mas eu poderia ter começado com o primeiro disco do Nihilist Sapasm Band, que é daquele mesmo ano. Eu poderia ter ido mais longe, Futuristas, por exemplo, mas não há nenhum vinil do Russolo e eu não conseguiria pagar por um se existisse! Eu estava determinado a usar somente as prensagens originais da minha própria coleção. Então o projeto é maior que um set de DJ. Para mim, é tanto sobre colecionar quanto é uma visão geral da noise music, ou melhor, do barulho na música. Obviamente eu também poderia ter escolhido diversas outras coisas para representar 2009! Eu tentei achar um álbum ou mais para cada ano de 1965 até o presente.
Quanto aos álbuns, foram anos colecionando. Já os samples escolhidos para a performance foram aleatórios. Chamo (a técnica) de “solte a agulha”.

Os samples são apresentados em ordem cronológica, certo?
Certo.

Sun Ra foi o primeiro cara a realmente usar barulho na música popular?
Definitivamente não. Foi quem quer que seja que tenha desviado da música que herdou, um homem das cavernas esperto.

Quais são seus artistas, discos e/ou músicas preferidos dentre aqueles apresentados na performance?
Essa é realmente difícil de responder porque eu amo a maioria dos discos por alguma razão ou outra. Eu adoro a loucura das performances improvisadas da Nihilist Spasm Band, Destroy All Monsters, Red Krayola e Acid Mothers Temple. Eu adoro o terrorismo psicopata do Throbbing Gristle. Sempre vou amar Swans, DNA, Sonic Youth antigo. Realmente gosto de bandas mais novas como Kites, Coughs e Sightings. De maneira geral, gosto de experimentos em áudio que continuam sendo audições desafiadoras, que produzem um efeito psicológio e/ou físico.

Qual foi sua experiência mais louca e/ou intensa com música?
Eu vi um show do ao ar livre do Mercury Rev em 1994 que foi tão alto – três ou quatro guitarras cheias de feedback e uma flauta com uma tonelada de pedais de efeito – que as pessoas realmente se escondiam atrás de outras pessoas na parte de trás do local, tentando se proteger do ataque. Foi tão intenso fisicamente que era difícil de respirar. Em relação ao barulho gerando um efeito psicológico, "Second Annual Report", do Throbbing Gristle, quando escutado com muita atenção, sempre me leva para um lugar profundo.

Você mencionou o Sonic Youth antigo. O que você acha do “novo” Sonic Youth? Você gostou do disco mais recente deles, The Eternal?
Eu parei de escutar Sonic Youth depois de Daydream Nation. Brincadeira, mais ou menos. Eu vi a turnê de aniversário do Daydream Nation em 2007 em Los Angeles e foi ótimo. Eu vi o show do The Eternal em São Francisco no ano passado e amei. Eu os respeito imensamente, mas parei de seguir faz ao menos uma década. Sou nostálgico em relação às coisas mais antigas, cruas e com atitude suja: Confusion is Sex, Evol e Sister.

Existe algum estilo de noise music que você simplesmente não suporta? Você gosta de gabba e black metal, por exemplo?
Eu considero música comercial e pop um barulho nauseante. Em relação à música que tem intenção de ser barulhenta, eu estou disposto a dar uma chance a tudo, com exceção de merdas neo-nazistas, que pra mim são intoleráveis.

Você teve que lidar com questões de copyright?
Para ser honesto, nem me preocupo com isso.

Você planeja gravar Sun Ra to Sunn O))) e lançar em disco? Ou fazer um DVD?
Não. Dei gravações em áudio da performance para alguns amigos mas é só.

Você vai fazer esse performance novamente? Onde e quando? Tem planos de levar a performance para o exterior e talvez… apresentá-la no Brasil?
Sim. Na praia no Brasil. Eu queria! Você conhece boas galerias de arte?

Li sobre um outro projeto seu chamado Gift for the Screamers. Só por curiosidade… você conseguiu entregar os vinis feitos à mão para todos os ex-membros dos Screamers que estão vivos?
Ainda não consegui achar o Tommy Gear… Infelizmente, eu meio que desisti de procurar.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Deu no New York Times

Um repórter do NY Times foi conferir o tal simpósio black metal - e aprovou. Dá pra ler o artigo aqui.

E falando em black metal...

acabou de estrear nos EUA o documentário Until the light takes us, sobre... black metal! Mais especificamente, o black metal norueguês e sua trajetória nada exemplar. O legal é que os diretores do filme passaram anos convivendo com os black metallers da Noruega, então não é um filme de alguém que caiu de para-quedas no assunto - e, pelo que eu vi no trailler, também não de alguém que está a fim de passar a mão na cabecinha de assassinos e queimadores de igreja. Enfim, parece ser uma obra de bom jornalismo, aquele que se dispõe a conhecer todos os aspectos de uma situação complexa (e, no caso do black metal, o que não falta é complexidade). E aí, será que vem pro Brasil??



Pra quem ficou curioso, a música de fundo é Dunkelheit, do (glup) Burzum:

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Black Metal parte 2

No último sábado, aconteceu em Nova York um simpósio sobre "teoria black metal". Isso mesmo: uma série de palestras sobre assuntos como a ligação entre black metal e a filosofia de Nietzsche, por exemplo. Se não bastasse a excentricidade do tal simpósio em si, fiquei sabendo desse evento pelo blog de Sasha Frere-Jones, colunista de música da revista New Yorker - e ele garantiu que estava doido para ir ao tal encontro.

Isso me pôs a pensar se, embaixo dos escândalos e das ridicularidades/bizarrices que envolvem o black metal não existe um gênero musical e uma sub-cultura verdadeiramente interessantes e inteligentes.

Isso aconteceu hoje. E também foi hoje que resolvi procurar no Youtube alguma coisa da banda Sunn O))), sobre a qual eu já lera, mas nunca tinha ouvido. O som do grupo lembra The Swans, só que ainda mais radical: com mais peso, mais distorção, andamentos mais arrastados e vocais ainda mais guturais e desesperados. A banda geralmente é rotulada como pertencente ao gênero drone metal, que pode muito bem ser descrito como uma espécie de death-black metal em rotação lenta. Aliás, o último disco (Monolithis & Dimensions) e os shows recentes do Sunn O))) contam com a participação de Attila Csihar, atual vocalista do Mayhem (sim, aquela banda de black metal norueguês cujo guitarrista Euronymous foi assassinado por Varg Viekernes em 1993 - até então eles eram amigos e faziam programas como queimar igrejas juntos).

Acontece que, em vez de queimar igrejas, o Sunn O))) utiliza o espaço físico de igrejas e templos para fazer seus shows. A mistura entre a arquitetura naturalmente opressora dessas construções com o som torturante da banda, acrescidos de uma densa fumaça e integrantes vestidos como monges (e sem pintura de urso panda), cria um cenário sonoro-visual de pesadelo:



Fuçando um pouco mais na web, descobri que Attila Csihar também participou do disco mais recente de Jarboe, tecladista que fez parte do The Swans - e então o círculo se fecha e a hipótese de que existe vida inteligente no black metal ganha cada vez mais força...